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E as crianças? Conversa com os pais em tempos de pandemia

Por Lourdes Negreiros

Estamos vivendo um momento de muitos desafios nos últimos meses. Abruptamente fomos obrigados a nos recolher e restringir nossos relacionamentos. De repente a casa tornou-se o único lugar onde podemos estar em segurança. Nossos hábitos mudaram e várias incertezas invadiram nossa cabeça. Mas somos adultos e bem ou mal, dispomos de recursos mais maduros para tentar compreender e manejar com as ansiedades que marcam esse período.

E como ficam as crianças no meio dessa estória? O que estaria se passando em suas cabeças diante de tantas mudanças?

Por que não vou mais pra escola? Por que não posso abraçar meus avós?
Por que não desço para brincar com meus amigos? Por que lavar tanto as mãos? Para que essa máscara?
São muitos os questionamentos que podem estar desassossegando as crianças diante das várias mudanças de hábitos que foram implantadas em sua rotina repentinamente. Diante deste cenário os pais estão mobilizando esforços no intuito de dar esclarecimentos e apoio aos filhos o que não tem sido tarefa fácil. A rotina dos adultos também sofreu muitas alterações e a demanda tem sido cansativa em meio às outras tarefas que precisaram assumir.

Neste sentido vamos refletir sobre alguns aspectos que podem ajudar nesse cuidado com as crianças.

• Diante do cenário atual as crianças podem apresentar mudanças em seu comportamento, regredindo a períodos que já haviam sido superados: alterações no sono, na alimentação, no controle dos esfíncteres são reações possíveis de serem observadas. Algumas poderão ter oscilações constantes de humor, agitação, irritabilidade, e agressividade. Outras poderão se mostrar mais sensíveis e inseguras solicitando por exemplo dormir no quarto dos pais. Cada caso deve ser olhado de modo individualizado de acordo com a idade e as características da criança e de sua relação com os pais.
O importante é termos ciência de que essa é possivelmente, uma reação temporária diante das ameaças que atropelaram sua rotina. Vale lembrar que além da perda do convívio com a professora e com os amigos da escola, o espaço físico destinado às crianças ficou restrito à área de apartamentos, limitando seus movimentos e sua atividade lúdica.
Tentar empatizar com os sentimentos das crianças e tolerar as possíveis instabilidades desse momento seria um modo de acolher suas angustias e restaurar sua segurança.

• E importante construir um ambiente onde as crianças se sintam à vontade para fazer perguntas e expressar suas dúvidas e inquietações. Crianças pequenas apresentam recursos limitados para comunicar seus sentimentos pela palavra, mas, acompanhando seus hábitos e alterações de humor, podemos ir criando um espaço onde possa se expressar através de desenhos, contação de estórias, ou jogos. Através do brincar a criança revela suas emoções e encontra capacidade de elabora-las. Enquanto a criança brinca vivencia seus medos como se estivesse no controle da situação o que auxilia no manejo dos mesmos. É essencial que fiquemos atentos também às possíveis alterações nos hábitos alimentares, no controle dos esfíncteres ou em expressões de somatização já que o corpo é uma das vias de comunicação mais efetivas no que diz respeito ao estado emocional da criança. Desse modo dificuldades como recusa ou voracidade para se alimentar, enurese, constipações, estados febris, poderão ocorrer como forma de expressão de suas ansiedades.

As crianças maiores captam de modo mais refinado o cenário de insegurança instalado na atualidade e necessitam de um canal mais direto para esclarecer suas dúvidas.

Torna-se necessário escuta-las e responder às suas perguntas com clareza e verdade. As vezes omitimos realidades deixando-as de fora do que está acontecendo diante de seus olhos.Com essa postura estamos desqualificando suas capacidades e contribuindo para que fiquem à mercê de incontroláveis fantasias.

Aquilo que pode ser conversado tem uma dimensão bem mais digerível para a mente do que fatos ocultos, que assumem a condição de coisas perigosas sobre as quais não se pode falar. Os não ditos, os segredos que negam fatos inquestionáveis, privam as crianças do enfrentamento da realidade podendo gerar dificuldades na promoção de um diálogo aberto com os pais.

•O desenvolvimento emocional necessita do enfrentamento de experiências que incluam algumas faltas ou frustrações. Não podemos prover tudo ou proteger os filhos de várias adversidades que encontrarão, pois do contrário crescerão indefesos e sem recursos para lidar com os obstáculos naturais que encontrarão pela vida. Ou seja: por mais dura que seja uma realidade precisamos ajudar as crianças a nomeá-las e enfrentá-las de acordo com sua maturidade. Elas merecem respostas honestas sobre o que está acontecendo ao seu redor; respostas encaminhadas através de uma linguagem que respeite a necessidade apropriada de cada idade.

•No momento atual é saudável informá-las sobre o vírus e seu risco de contágio assim como sobre as medidas que estão sendo tomadas para combate-lo. Elas devem ser conscientizadas dos cuidados que todos estamos tomando para nos proteger e proteger os outros. Os adultos devem tranquilizar as crianças, compartilhando que a situação pode ser tediosa ou assustadora por algum tempo, mas que acatar as regras ajuda a manter todo mundo em segurança. É essencial que possamos lhes assegurar que é natural sentir medos e que todos sentimos medos quando estamos inseguros. Negar ou minimizar os medos faz com que a criança pense que há algo de errado com ela, que seus sentimentos são inadequados. Na medida em que ela entende que suas emoções são reconhecidas e validadas, pode ir gradativamente encontrando saídas para elaborá-las. O que contribui para diminuir a ansiedade é ir mostrando para a criança que ela pode fazer algo a respeito de seus medos. Conversar sobre o medo do vírus em alguns momentos pode ser a alternativa para lidar com as coisas que estão fora de seu controle. O essencial é que percebam que os pais estarão sempre receptivos para escutá-las.

•A situação de isolamento em que estamos inseridos (apesar dos infortúnios) pode ser aproveitada como uma oportunidade para estreitar o relacionamento com os filhos e participar de modo mais íntimo de suas atividades. Nos últimos tempos as prioridades com as demandas profissionais estão minando os momentos de intimidade e compartilhamento de experiências dos pais com os filhos o que resulta em distanciamentos emocionais que restringem as trocas afetivas entre ambos. Cada família poderá encontrar de modo individualizado suas alternativas para um bom aproveitamento dessa convivência intensa com os filhos na atual época de isolamento social.

•Muita informação e imagens perturbadoras estão chegando por todos os lugares e, parece que o vírus está indomável e próximo de atingir todas as famílias. Se os adultos não estão se sentindo seguros, a sensação não é diferente para as crianças. Vale ressaltar que ao mesmo tempo que elas precisam receber informações, devemos cuidar para que não tenham acesso a noticiários que divulgam dados que estariam além de sua capacidade de compreensão. Para as crianças muitas vezes é difícil distinguir entre as imagens na tela e sua realidade pessoal. No meio de tantos barulhos ameaçadores é importante, informar que os adultos estão cuidando da situação e estudando maneiras de combater o vírus. O momento atual oferece também uma oportunidade para construirmos um diálogo construtivo sobre a responsabilidade coletiva da humanidade.

•Toda criança necessita ser cuidada através de uma rotina de hábitos estável. A chegada da quarentena provocou rupturas na rotina escolar, socialização, convívio com os pais e atividade lúdica. Um esquema de horários regulares de atividades promove segurança e organiza emocionalmente as crianças. O desejável é manter as rotinas regulares o máximo possível, especialmente no que diz respeito à alimentação e horas de dormir. A criança se organiza no ambiente através da rotina. A rotina a sustenta e tranquiliza já que aponta uma certa previsibilidade dos acontecimentos, fator essencial, para o desenvolvimento de um sentimento de segurança no mundo.

• As crianças buscam referências na atitude dos adultos. Sua educação acontece por meio do que falamos, dos valores que transmitimos, mas, sobretudo a partir das nossas atitudes. O que fazemos, e autorizamos que aconteça conosco, será um veículo importante para a construção de suas referências e reações. Mas nenhum pai precisa perseguir um ideal de perfeição. Todos estão sujeitos a falhas e nenhuma criança necessita de pais perfeitos. O que a criança espera é poder contar com sua disponibilidade e cuidado afetivo e as possíveis falhas nesse encontro fazem parte das experiências de frustação necessárias para o seu crescimento emocional.

•Por conta da suspensão das aulas parece estar havendo um excesso de preocupação com a recuperação dos conteúdos escolares. Neste sentido precisamos ficar atentos para que a casa não se transforme num lugar escolarizado e didatizado marcado por excessivas pressões nas relações pais-filhos. A oferta de aulas on line pelas escolas, deve ser vista como um espaço para resguardar uma certa continuidade nas atividades pedagógicas, mas, não podemos minimizar as inúmeras dificuldades encontradas por filhos e pais para dar conta desta tarefa. As aulas online são mais cansativas, e a disponibilidade mental das crianças para um aprendizado sistematizado através de vias tecnológicas, vai depender de inúmeros fatores incluindo seu estado emocional do momento. Certamente findado o período de isolamento o calendário escolar deve ser reorganizado visando retomar os conteúdos perdidos.
Concluo essa conversa compartilhando que, como humanos que somos, tememos o fim do mundo. E quando somos invadidos por uma pandemia ficamos andando às tontas como diz o poeta, assustados com a ideia de fim: fim dos encontros, fim dos abraços, fim das certezas, fim da nossa ilusão de onipotência, fim do mundo. Mas também como humanos que somos, temos a capacidade de pensar, criar, e nos reinventar diante das ameaças. Temos a condição de enxergar que em cada ideia de fim de mundo que nos ronda há sempre uma bela oportunidade de crescer.
Deixo vocês com a poesia de Mario Quintana.

A gente não sabia
A gente ainda não sabia que a Terra era redonda.
E pensava-se que nalgum lugar, muito longe, Deveria haver num velho poste uma tabuleta qualquer— uma tabuleta meio torta e onde se lia, em letras rústicas: FIM DO MUNDO.
Depois nos ensinaram que o mundo não tem fim.
E não havia remédio senão irmos andando às tontas
Como formigas na casca de uma laranja.
Como era possível, como era possível, meu Deus, Viver naquela confusão?
Foi por isso que estabelecemos uma porção de fins de mundo…
(A gente não sabia/Mario Quintana)

Lourdes Negreiros
Psicanalista/membro efetivo da Sociedade Psicanalítica de Fortaleza – SPFOR
Coordenadora do NUPIA – Núcleo de Psicanálise da Infância e Adolescência – SPFOR

NUPIA – I JORNADA CLÍNICA DE 0 A 3 ANOS – CANCELADO

CANCELADO –

A SPFOR através do Núcleo de Psicanálise da Infância e Adolescência (NUPIA), realizará no dia 18 de abril de 2020 a
I Jornada da clínica de 0 a 3 anos.
O evento ocorrerá no auditório da Torre Saúde Complexo São Mateus (Av. Santos Dumont, 5753) das 9 às 18:30.
Na oportunidade contaremos com a participação da psicanalista Alicia Lisondo da Sociedade Brasileira de Psicanálise de São Paulo (SBPSP) e também com a presença do Dr. Álvaro Madeiro (pediatra), da Dra. Sílvia Lemos (neurologista) e de Lourdes Negreiros psicanalista da Sociedade Psicanalítica de Fortaleza (SPFOR).
Esse evento pretende promover uma discussão sobre as possibilidades de intervenções do atendimento psicanalítico nessa fase inicial da infância assim como um diálogo interdisciplinar.

🔹Garanta sua vaga com valor especial de 1º lote!
🔹Apenas R$ 90,00
🔹Mais informações: 85 3264.7709 / 98142.4811

Inscrições através de depósito ou transferência para:
Agência: 2301 | C/C: 2843-6 | Banco Sicredi  (748)
Sociedade Psicanalítica de Fortaleza – CNPJ: 05.358.763/0001-22
A confirmação da inscrição se dará através do envio do comprovante de pagamento juntamente com o nome do participante para psicanalisefortaleza@gmail.com

 

 

 

 

Psicanálise e Arte em Sessão – Filme Coringa

Psicanálise e Arte em Sessão

Local: Livraria Cultura – Shopping RioMar
Data: 31 de janeiro 2020 – 19h
Hora: 19h00

CORINGA
Filme de Todd Phillips

Comentários

César Barreira – Coordenador Colégio de Estudos Avançados da UFC
Rosane Müller – Analista didata SPFOR e Professora UNIFOR

Entrada Franca
Contato: 3264 7709

Sinopse CORINGA
Por Rosane Müller

O filme Coringa (Joker, Estados Unidos, 2019) conta a história da transformação de Arthur Fleck, empregado como palhaço e aspirante a comediante, no vilão mestre do caos, arqui-inimigo de Batman e de como esses dois personagens se construíram vítimas, na ficção dos quadrinhos, de situações traumáticas. Arthur tem distúrbios psiquiátricos, é de uma fragilidade emocional contundente, que se vê no seu corpo magérrimo e encurvado. É uma figura que vive em torno do riso, quer fazer rir. Ele mesmo tem uma risada incontinente como um dos sintomas, risada jorro perturbador, macabro, enigmático em uma figura com verve de artista. Arthur é abusado, escarnecido e violentado, justamente, por sua fragilidade e desamparo. Mas, eis que um dia os medicamentos fornecidos pelo estado são suspensos e sem seus medicamentos, ele acaba por ir em busca de sua verdade, da verdade de sua história. Esta, de certo modo, o cura, à medida que lhe permite existir.

Psicanálise e Arte em Sessão | O retrato de Dorian Gray

Psicanálise e Arte em Sessão

Local: Livraria Cultura – Shopping RioMar
Data: 29 de novembro de 2019 – 19h
Hora: 19h00

O retrato de Dorian Gray
Oscar Wilde

Comentários

Fernanda Coutinho | Professora de Teoria da Literatura da UFC
Walmy Silveira | Psicanalista da SPFOR

Entrada Franca
Contato: 3264 7709

SINOPSE

 

No romance um pintor faz um retrato de um belo jovem, Dorian Gray que se apaixona pela pintura e a esconde num porão onde passa a contemplá-la frequentemente. Ele observa que enquanto o retrato segue deteriorando a pessoa do retratado se conserva bela e sempre jovem. Uma versão do mito de Narciso pela qual idealizadamente a juventude e a beleza de cada um jamais pereceriam, num acordo com a ilusão de onipotência e autossuficiência através da qual o indivíduo careceria da interação, contribuições e amor do outro. O estudo do romance pode ensejar reflexões sobre essa importante característica humana o narcisismo, que através dos tempos sobretudo em nossa sociedade atual se manifesta em diferentes facetas.

Psicanálise e Arte em Sessão – Filme Relatos Selvagens

Psicanálise e Arte em Sessão

Local: Livraria Cultura Shopping Varanda Mall
Data: 28 de junho de 2019
Hora: 19h00

Relatos Selvagens
Filme de Damián Szifron

Comentários
Régis Frota | Cineasta
Lourdes Negreiros | Psicanalista SPFOR

Entrada Franca
Contato: 3264 7709

Sinopse

O filme do argentino Damián Szifrón é composto, de seis  episódios independentes, mas que se entrelaçam  tematicamente, costurando uma série de reflexões sobre a agressividade e apontando a  tênue separação entre o humano e o selvagem. Uma obra sobre o ódio  em situações extremas, o longa investiga com acidez   e  humor negro a atual sociedade que construímos e alguns de seus mais profundos vícios e angústias. Vingança, frustração,violência, mágoa, traição e sede de poder, permeiam o funcionamento dos personagens denunciando   que em situações limite a agressividade pose ser atuada de forma selvagem.
Os relatos selvagens conduzidos por Szifrón fazem com que o espectador seja convidado a transitar entre o humor e a violência dramática e nos  provoca a  pensar sobre o limite frágil que separa a civilização da  barbárie.
Afinal ate onde somos capazes de ir quando confrontados com situações quer nos incitam a perder o controle?

Psicanálise e Arte em Sessão – A infância de um chefe

Psicanálise e Arte em Sessão

Local: Livraria Cultura Shopping Varanda Mall
Data: 26 de abril de 2019
Hora: 19h00

A infância de um chefe
Cap.do livro O Muro de Jean-Paul Sartre

Comentários

Atilio Bergamini | Doutor em Literatura Brasileira pela UFRGS, professor de Literatura do Curso de Letras e do Programa de pós-graduação em Letras da Universidade Federal do Ceará

Valton de Miranda Leitão | psicanalista didata SPFOR

Entrada Franca
Contato: 3264 7709

 

Programa Escutar e Pensar

Programa Escutar e Pensar

Tema: Violência contra a Criança
Apresentação: Maria Livia Marchon

Data: 22  de março de 2019
Horário: 14h às 15h
Rádio Universitária FM 107.9
www.radiouniversitariafm.com.br

CONVIDADOS

ALMIR DE CASTRO NEVES FILHO
Professor de Pediatria e Medicina do Adolescente
Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará

FLÁVIA MELO BRASIL
Psicóloga e Psicanalista da SPFOR

Participe do Programa
Telefone: 3366.7474

Programa Escutar e Pensar – Tema: Educação / Escola

Programa Escutar e Pensar

Tema: Educação / Escola
Apresentação: Maria Livia Marchon

Data: 15 de fevereiro de 2019
Horário: 14h às 15h
Rádio Universitária FM 107.9
www.radiouniversitariafm.com.br

CONVIDADAS

NEIDELAMAR LUCENA
Psicóloga e psicoterapeuta da Escola de Psicoterapia Psicanalítica de Fortaleza – EPPF

CATARINA QUINTELA
Professora de Filosofia da Escola de Ensino Fundamental e Médio Padre Rocha

Participe do Programa
Telefone: 3366.7474
escutarepensar@gmail.com

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